Testemunho de uma Estrela

Sobre 8 anos na estrada

Há dias eu venho sentindo vontade de escrever um pouco sobre os sentimentos, nos quais estou mergulhada nesse agora, hoje senti que seria um bom momento pra refletir sobre os passos dados, transformações, dificuldades e milagres já experimentados pelo meu ser, estando aqui como Paloma de Oliveira Ramos.

Me aproximo agora da realização dos meus 8 anos de fardada, no próximo São João, dia 24 de junho de 2022. Lá em 2014, quando assumi essa responsabilidade com a minha estrela eu não podia nem ao menos imaginar quão imensas serras haveria de transpor para alcançar um vislumbre da minha missão de vida.

Apesar do pouco tempo perfilada (torta ou em linha reta) nas fileiras da Rainha da Floresta, alcancei grandes transformações. O começo foi em campos mais tranquilos, tendo que lidar com questões internas muito latentes, como traumas de infância, dificuldades de comunicação, enfim, aquilo que tá na superfície é o que primeiro se apresenta. A medida que subi com grandes batalhas alguns degraus, as tarefas foram se tornando mais árduas.

Mas o que de fato eu entendo é que em 2016 a torre das ilusões começou a cair pra mim. Naquele ano eu concluía a minha graduação em ciências sociais na ufac, me considerava imbatível, tinha um ego que devia ao certo ser uns 2 metros mais alto que os meus poucos 1,58.

O que eu ainda não entendia até então é que toda essa pompa de ser sabida e poder tudo eram as bases que sustentavam uma imensa fragilidade, a casca teve que ficar dura demais pra eu conseguir dar conta de vencer as travessias que havia de enfrentar. Eu era só coragem!! Essa coragem me serviu muito, me permitiu lutar com afinco nos meus ideais construindo uma visão sobre quem eu era; mas a torre foi construída na areia e no subir da primeira maré eu pude ir percebendo que aquilo tudo não era eu, mas uma visão sobre mim construída para me proteger do mundo, pra ter força e coragem pra avançar.

Eu fui uma criança muito fantasiosa, nunca tive liberdade de me expressar e então o começo da minha “vida adulta”, chegou com toda a força da rebeldia pra quebrar os muros, os quais eu já estava acostumada a encontrar quando tentava expressar um pouco do que eu imaginava ser, ou estava construindo pra mim.. Nessa altura, lá em 2016 eu fiz uma viagem, vivi o exílio do fim do mundo (vendo refletida no espelho todas as sombras que tentava esconder de mim mesma), depois dessa fase de exílio eu fui pra floresta.

Minha intensão na floresta era fazer alguns trabalhos, mas logo voltar pra cidade. Doce ilusão! Foram 13 meses de profundos estudos e confrontações com quem eu imaginava ser. Lá muitas coisas foram clareadas, percebi a conexão de questões que já vinham sendo apresentadas pra mim há alguns anos. O interessante é que apesar de ser um processo interno muito profundo e transformador eu fui percebendo a interconexão do meu processo pessoal com o que encontrava no meu entorno imediato. Hoje, olhando de longe eu consigo compreender o porque de algumas atitudes minhas na época. Ainda tenho muito o que aprender, um serviço de vida inteira pra prestar, mas as dificuldades continuam em uma mesma linha de obstáculos. Quando vem os momentos de desespero, as vezes olho pro firmamento e peço que o Mestre firme meu pensamento e me permita afirmar o meu serviço.

Lá na floresta eu vivi o processo mais intenso de desconstrução experimentado até hoje. Eu já não sabia quem era, olhava pra mim e não tinha mais aquilo que eu reconhecia como sendo a Paloma. Vivendo a intensidade de uma vida comunitária, tentando me afirmar e me conformar com o papel que me fora entregue pra assinar, eu desabei. Não encontrei uma base sólida, ou um apoio firme que me desse cobertura, pelo contrário.

Não quero aqui escrever um capítulo inteiro de lamentações, apontar dedos a quem quer que seja, não, a intensão não é essa. O que eu preciso é de alguma forma expressar um pouco do que me consome internamente, na esperança de um dia poder realizar o serviço que vim prestar junto com meu General.

Aliás, ele tem sido a minha fortaleza. Eu ando há algum tempo em busca de encontrar a Doutrina de Juramidã; por onde passei encontrei um pouco do que ele deixou, algumas coisas reconheço de cara, outras não me passam na garganta. Em alguns momentos assumo involuntariamente a posição de uma zeladora do que ele deixou estabelecido, apesar de eu mesma ainda não ter clareza sobre tudo (na verdade são muitas dúvidas), em outros momentos eu corro, corro, quero distância de todas essas hierarquias e muros construídos pelos homens, eu invento um outro mundo, me isolo e me coloco longe de tudo que me faz mal, mas aí o dragão vem e bota a torre abaixo. “Vem cá menina, não tem pra onde correr, vamos continuar”. O Mestre é tão compassivo comigo, tem tanta paciência, em certos trabalhos eu mesma chego a ter vergonha das minha fugas loucas, mas ele ta lá, com todo amor e carinho pra me receber de volta e me tornar consciente do que vim fazer.

Não existe uma conclusão pra esse testemunho, os capítulos continuam a ser construídos, querendo eu fugir ou não. Meu Mapa Natal é muito interessante, apesar de um Ser tipicamente Leonino (Sol, Lua, Ascendente, Jupiter, Quiron, Roda da Fortuna) sofro no meu dia a dia com baixa auto estima, enquanto o Nodo Norte está lá, me apontando a direção da cabeça do Dragão, com disciplina e prezando pela tradição do meu General. É muito julgamento nesse campo minado construído pelos homens, o que sei é que antiguidade não é riqueza, nem saber e a balança do julgamento eu carrego em cima da minha cabeça, seja lá pra onde eu corra, ela não me deixa, assim como o meu professor.

Eu já nem sei quem fui, o sacramento vivo do Daime fez cair por terra muitas capas antigas que cobriam o meu Ser. São poucos anos dentro dessa luz e eu meio ainda sem saber compreender, lutando pra dominar muita rebeldia em mim, pedindo desculpas por fazer o meu trabalho, chorando muito e me lamentando por as vezes me levantar e pedindo a Deus pra ter um pouco de paz e tranquilidade pra poder com um pouco de alegria empregar o meu amor.

 

Eu Sou!

 

Paloma de Oliveira Ramos

Kin 208 Estrela Cósmica Amarela

 

13 de junho de 2022 (Dia de Santo Antônio)

Kin 26 Enlaçador de Mundos Cósmico Branc